Sofrimento que ocorre quando a morte é prevista é comum em pacientes que enfrentam doenças terminais e seus familiares, mas ainda é pouco reconhecido
Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein
Uma despedida nunca é fácil. Muito menos quando a partida é para sempre. Mas ela pode se tornar um pouco mais leve se a pessoa puder dar vazão aos sentimentos de perda mesmo antes da morte. Nesse sentido, a tristeza por uma doença prolongada e incurável pode ser uma oportunidade de encontrar a paz que muitas vezes falta a quem enfrentou um fim súbito. Encarar esse sofrimento é uma forma de sanar as pendências, de não deixar nada por dizer ou fazer por aquela pessoa que está partindo.
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O chamado luto antecipatório, comum em pacientes que enfrentam doenças terminais e seus familiares, foi observado primeiramente em mulheres de soldados que iam para a guerra e que passavam a se comportar como viúvas. Ainda assim, o conceito não é consenso entre os especialistas e envolve muitas caracterizações, sugere um artigo recém-publicado no periódico científico Palliative Medicine. Na prática, ele também não é facilmente reconhecido pelos profissionais de saúde.
“O luto antecipatório pode ser encarado como uma preparação para o processo de luto real e ocorre quando a morte é prevista, como numa experiência de doença grave”, observa Ana Claudia Arantes, médica geriatra do Hospital Albert Einstein com formação especializada em cuidados paliativos.
Isso porque, diante da finitude, a pessoa transita por várias etapas que vão se alternando e que envolvem negação, raiva, barganha, depressão, aceitação – na maioria das vezes, sem uma ordem e um tempo determinado para cada etapa. “Poder vivenciar isso antes da morte facilita cumprir etapas, desenvolver coragem, força, resolver pendências, amar e se sentir amado”, continua Ana Claudia. Assumir a situação também permite que o paciente deixe orientações sobre suas vontades e seu legado, a forma como gostaria de ser lembrado.
Por isso, a melhor forma de ajudar quem está vivendo esse processo é saber escutar. “Não se deve fugir ou negar a situação mas, ao contrário, fazer perguntas, estimular que o outro expresse seus sentimentos, medos e angústias”, orienta a médica. O objetivo é que ele possa encontrar as respostas que estão dentro de si mesmo. Caso não consiga superar esses sentimentos, vale recomendar um suporte psicológico especializado.
Mesmo que a tristeza seja inevitável, o luto pode ser um poderoso recurso de transformação capaz de dar um novo significado àquela falta. “Trata-se de conseguir transformar a presença física que está partindo em uma presença simbólica, estar em paz com o legado afetivo, com a construção do relacionamento”, diz Ana. E perceber, depois do adeus, o quanto do amor pela pessoa querida ainda permanece aqui.
Fonte: Agência Einstein
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